segunda-feira, 14 de julho de 2014

118- O Iaque (parte 2/2) - Drongs e Dzos

Um Drong, iaque selvagem
(Continuação da postagem 117)

Thubten Jugme Norbu, irmão mais velho de Tenzin Gyatso, o 14o Dalai Lama, conta sobre sua viagem a Kumbum (3), em 1950:

“Por muito fiquei a ver os vastos rebanhos de drongs com meus próprios olhos. A vista daquelas bestas belas e poderosas que desde tempos imemoriais fizeram a sua casa no planalto estéril do Tibete nunca deixou de fascinar-me. De qualquer maneira, essas criações tímidas conseguem sustentar-se nas raízes de grama raquíticas, que é tudo o que a natureza fornece naquelas partes. E que maravilhosa vista é ver um grande rebanho deles mergulhando cabeça abaixo em um galope selvagem através das estepes. A terra treme embaixo de seus saltos e uma nuvem vasta do pó marcam a sua passagem. À noite, eles vão se proteger do frio se misturando em cima um do outro em conjunto, com os bezerros no centro. Eles ficarão assim em uma nevasca, pressionados firmemente juntos uns nos outros até que a condensação da sua respiração aumente no ar como uma coluna de vapor. Os nômades tentaram ocasionalmente criar drongs jovens como animais domésticos, mas eles nunca tiveram sucesso inteiramente. De qualquer maneira, uma vez que eles vivam em conjunto com seres humanos, eles parecem perder a sua força assombrosa e poderes da paciência; e eles não são de nenhum uso em absoluto como animais de carga, porque o seu dorso imediatamente fica dolorido. A sua relação imemorial com seres humanos tem permanecido principalmente como de caça e caçador, já que a sua carne é muito saborosa."



A vida quer viver... A fisiologia dos iaques é bem adaptada à grande altitude, tendo pulmões e coração maiores do que o gado encontrado em altitude mais baixa, e também maior capacidade para transportar o oxigênio através do seu sangue.
Os iaques comem gramas, líquens e outras plantas. São protegidos do frio intenso por uma camada de pelo denso, fechado e entrelaçado embaixo do seu pelo exterior desgrenhado. Secretam no seu suor uma substância pegajosa especial, que ajuda a manter ainda mais o isolamento térmico. Esta secreção é usada na medicina tibetana/nepalesa tradicional. 
Apesar de tão bem adaptados aquele habitat, a presença humana faz dos iaques selvagens hoje em dia  uma espécie vulnerável.
Seu corpo é uma expressão de generosidade... Os iaques domesticados fornecem  leite, fibra e carne, e também são usados como animal de carga. Transportam mercadorias através das passagens das montanhas para agricultores locais e comerciantes, bem como para expedições de caminhada e escalada. Também são usados no arado. O esterco de iaque é queimado como combustível e até usado misturado a ervas aromáticas na fabricação de incensos. O leite muitas vezes é processado para fazer um queijo, chamado churpi nas línguas tibetana e nepalesa, e byaslag na Mongólia. A manteiga feita do leite  é um ingrediente usado como chá. É também usada em lamparinas e para fazer esculturas usadas em festividades religiosas.
Na sua maioria, os animais de carga são, na verdade, híbridos de iaque e Bos Taurus, gado bovino comum. Esses são conhecidos no idioma tibetano como dzos.

FONTES:

1.Wiener, Gerald, Han Jianlin, and Long Ruijun. " The Yak in Relation to Its Environment", Bangkok: Regional
                Office for Asia and the Pacific Food and Agriculture Organization of the United Nations, 2003; 
2. Tibet is My Country: Autobiography of Thubten Jigme Norbu, Brother of the Dalai Lama as told to Heinrich Harrer, 1960. Wisdom Publications, London;
3. Antes de 1958, Kumbum tinha 3.600 monges. Atualmente, existem 400. O mosteiro foi afetado pela política da Revolução Popular Chinesa, a partir do final dos anos 1950. Kumbum ainda é hoje um  grande centro de peregrinação para os fiéis e estudiosos, visitado por milhares de pessoas por ano. O atual Arjia Rinpoche, posição dada ao abade local, desertou para os Estados Unidos em 1998.

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