segunda-feira, 11 de março de 2013

92- Máscaras e Dança na Funarte na conferência de Martha Pires Ferreira em 1982


Em 1982, eu era aluna da Angel Vianna do que se chamava na época de Expressão Corporal. Minha colega de curso, Márcia Padilha me convidou e ee convidei meu amigo Marco Antonio Moura Dias para uma performance na Funarte, relacionada a máscaras. De cara aceitamos. Ele era um artista plástico eclético e se dispôs a nos ensinar a fazer máscaras de papier marché.
A performance aconteceria durante uma conferência de Martha Pires Ferreira, artista plástica e astróloga de renome (1). Tivemos uma entrevista com Martha em sua casa em Santa Teresa. Aos poucos, fomos nos inteirando melhor do que era esperado da nossa participação.
Movidos pelo mais puro desejo de criar e interagir, Márcia, Marco e eu nos encontramos para produzir nossas máscaras. Até chegarmos às definitivas foram   uns quatro encontros que renderam muita filosofia e algumas outras máscaras não escolhidas. 
As máscaras em papier marché tinham a mesma base de argila cujo tamanho era cerca de 40% maior que um rosto normal. A do Marco, depois da pintura e dos adereços, era de um dançarino de tango (foto acima).  A da Márcia era ela mesma (na foto acima, abraçada  pelo dançarino). E a minha máscara era metade dia e metade noite (foto ao lado).
A Martha chegou para conferência com um visual impactante. Lá se vão mais de trinta anos e, infelizmente, não tenho registro fotográfico dela, mas guardo na lembrança o seu rosto pintado e sua túnica estampada em cores vivas. Era uma deusa primitiva! Em contraste com essa imagem, dissertava daquele jeito aquariano articulado, acompanhando a projeção de slides que mostrava a máscara desde os primórdios paleolíticos até a máscara do astronauta na lua. Enquanto isso, nós três circulávamos pela platéia com nossos trajes mascarados, reagindo com gestos largos, exagerados, ao que a Martha ia falando e que estávamos ouvindo pela primeira e única vez. 
No final, distribuímos entre os presentes as demais máscaras que produzimos.
Assim, dançamos todos juntos ao som da “Máscara Negra”, de Zé Keti, e de “Quem é Você”, de Chico Buarque.
“A dança foi algo inédito dentro da Funarte”, disse Martha, que guardou e me enviou as informações abaixo do cartaz do evento:
A máscara como expressão plástica.
Conferências Audiovisuais
Espetáculos de mímica
Máscaras - no culto, no teatro, nas tradições.
Espaço Alternativo
FUNARTE 20/ setembro a 15/outubro 1982

NOTAS:
1)  Martha Pires Ferreira foi amiga e colaboradora da Dra Nise da Silveira. Atualmente é coordenadora das Artes Plásticas na Casa das Palmeiras. Autora do blog Cadernos Aquarianos.
2)   Fotos tiradas por Mario Victor Monteiro na Sala de Exposição da Funarte, RJ.
3)   Veja no Youtube: Martha Pi Ferreira, por JuliaAndrade2011.

segunda-feira, 4 de março de 2013

91- As Máscaras do Boi na Vivência Mítica, Escola Angel Vianna


Máscaras do Boi - Vivência Mítica, Escola Angel Vianna

Na vivência mítica realizada na Escola Angel Vianna, foram muitas as danças, toadas e reflexões até chegar o momento da feitura da máscara do boi. Aí, pareceu um tempo sem tempo. Os participantes se redescobriram criando, brincando, transformando a imaginação em  formas, cores e movimento no espaço físico.
Embora o tema proposto tenha sido o mesmo para todos, cada um fez surgir na sua máscara de boi o seu tema particular, relacionado ao  inconsciente pessoal .
Mas o fazer, o vestir e dar vida à máscara através do movimento também nos remete a experiências do coletivo, desde a ancestralidade humana.
O mais antigo registro do uso de máscara que se tem notícia foi deixado nas paredes da caverna de Lascaux, na França, datado de cerca de 14.000 AC. Essas gravuras rupestres mostram caçadores mascarados com cabeças de animais. Supõe-se que acreditavam poder assim adquirir as forças instintivas destes animais e garantir o sucesso da caça. As máscaras usadas ritualisticamente primavam pela intensa expressividade e serviam como mediação entre a esfera sobrenatural e a natural. (1)
Também usada nos ritos de iniciação, a máscara do iniciador simbolizava o espírito que instruía o adolescente de que naquele momento ele morria na sua condição anterior para nascer na condição adulta.
Mais próximas à cultura atual, as tradições gregas conheceram as máscaras rituais das cerimônias e das danças sagradas, as máscaras funerárias, as máscaras votivas, as máscaras de disfarce e as máscaras teatrais. Aliás, foi esse último tipo de máscara, figurando como um personagem (PROSOPON) que deu nome à “pessoa”.
A máscara teatral, que é também das danças sagradas, é uma modalidade e um manifestação do Self universal. A personalidade do portador em geral não se modifica, o que significa que o self é imutável.
Por outro lado, uma modificação pela adaptação do ator ao papel, pela sua identificação com a manifestação divina que figura, é o próprio objetivo da representação. Pois a máscara, especialmente sob seus aspectos irreais e animais, é a Face divina. (2) 

NOTAS:
1) Ref.: C. G. Jung; O Homem e seus Símbolos. Editora Nova Fronteira, 2008.
2) Ref.: Chevalier, J. e Gheerbrant, A.;  Dicionário de Símbolos, mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras cores, números. Ed José Olympio, 18o.
3) Mais sobre máscaras de bicho, ver neste blog: Postagem 5- A Máscara de Oncinha da Dra Nise; Postagem 10- Quando o Animal vira O Bicho!; Postagem 37- O Boi na Grécia: O Minotauro e a Máscara do Touro; Postagem 40- Reflexões Minotaurinas.