sábado, 14 de junho de 2014

116- As Vacas Pop de Andy Warhol



"Cow Wallpaper", Papel-de-Parede da Vaca (1)
A vaca foi  usada pelo artista plástico americano Andy Warhol(1928-1987) como tema para  o primeiro de uma série de desenhos transformados em papel-de-parede, que ele criou a partir da década de 1960 até a década de 1980. 
De acordo com Warhol, a inspiração para o tema da vaca resultou de uma sugestão feita pelo negociante de arte Ivan Karp, que disse a ele: "Por que você não pinta algumas vacas? A imagem da vaca  está presente desde sempre na história das artes. Elas são tão maravilhosamente pastorais…”
Warhol conta que Karp pareceu ter ficado chocado quando viu as enormes cabeças de vaca desenhadas por ele sendo levadas para se transformarem em rolos de papel. Elas foram pintadas numa cor rosa brilhante sobre um fundo amarelo brilhante. Eram vacas pop, bem distantes daquelas vaquinhas pastorais, imaginadas tradicionalmente.
Mas, passado o primeiro impacto, Karp explodiu: "Elas são super-pastorais! São ridículas! Elas são incrivelmente brilhantes e vulgares".
Karp passou a amar aquelas vacas e na mostra seguinte de Warhol, eles cobriram todas as paredes da galeria com as cabeças das vacas pop. 
Alguns dos trabalhos de Warhol, como esse da vaca, foram descritos como sendo "keatonescos". O adjetivo keatonesco faz alusão ao ator cômico americano, cineasta, produtor e escritor, Joseph Frank "Buster" Keaton (1895 -1966). Conhecido por seus filmes mudos, sua marca foi a comédia física. Usava sempre uma expressão impassível como a da vaca pop de Warhol, que lhe valeu o apelido de "O Grande Cara de Pedra."
Como muitos outros artistas da Pop art (2), Andy Warhol criou obras em cima de mitos como Mao Tse Tung. Retratou muitos ícones da música popular e do cinema, como Michael Jackson, Elvis Presley, Elizabeth Taylor, Brigitte Bardot, Marlon Brando e, a sua favorita, Marilyn Monroe. Warhol mostrava personalidades públicas como figuras impessoais e vazias de sentimento, tais como bens de consumo.  Associava essa ideia à técnica com que reproduzia estes retratos, numa produção mecânica ao invés do trabalho manual. Da mesma forma,  representou a impessoalidade do objeto produzido em massa, como as garrafas de Coca-cola e as latas de sopa Campbell. 

E a vaca retratada por Warhol? Como se encaixa? Na categoria de mito?  Ou na de bem de consumo? Segundo C. G. Jung "A fome transforma os alimentos em deuses...", vista assim, podemos dizer que a vaca se encaixa nas duas categorias.

NOTAS:
1) Em 1963, na galeria Gertrude Stein, Yayoi Kusama usou na instalação de seu trabalho: "Aggregation: One Thousand Boats Show", um barco a remo cheio de esculturas fálicas, um quarto forrado com 999 reproduções fotográficas em preto-e-branco dessas esculturas.  Esta peça Pop surreal foi influente no caminho que levou a arte fora do quadro e invadiu uma sala inteira. Três anos depois, em 1966, Andy Warhol "imitou" seu tratamento de paredes com o seu "Cow Wallpaper". Sobre Warhol, Kusama disse: "Éramos como líderes de gangues rivais, inimigos no mesmo barco." 
(fonte: http://www.economist.com/node/21545982)

2) A Pop Art, abreviatura de Arte Popular, foi um dos movimentos artísticos que se desenvolveu a partir da década de 1950, na Inglaterra e nos Estados Unidos, em reação ao movimento do expressionismo abstrato das décadas de 40 e 50. Os artistas deste movimento buscaram inspiração na cultura de massas para criar suas obras de arte, aproximando-se e, ao mesmo tempo, criticando de forma irônica a vida cotidiana materialista e consumista. Latas de refrigerante, embalagens de alimentos, histórias em quadrinhos, bandeiras, panfletos de propagandas e outros objetos serviram de base para a criação artística deste período. Os artistas trabalhavam com cores vivas e modificavam o formato destes objetos. A técnica de repetir várias vezes um mesmo objeto, com cores diferentes e a colagem foi muito utilizada. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

115- Uma História de Déja vus (4/4) - O Princípio de Hórus e o Caminho do Coração

baixo relevo egípcio
no centro, o olho de Hórus (1)
(continuação das postagens 112 a 114)
Dra. Nise relata que um caminho de imagens solares se iniciou na vida de Carlos a partir dessa intensa experiência da visão do "Planetário de Deus". Disse ela: "através de todo esse percurso na escuridão do inconsciente, como um fio condutor, está presente o princípio de Hórus,  isto é, o impulso para emergir das trevas originais até alcançar a experiência essencial da tomada de consciência. O princípio de Hórus rege todo desenvolvimento psicológico do homem e é tão forte que se mantém vivo mesmo dentro do tumulto de uma psique cindida, por mais grave que seja sua dissociação."
Na cultura egípcia o deus Hórus, filho de Ísis e Osiris representado muitas vezes por um olho, é símbolo do olhar justiceiro, discriminador, que combate Set, o maligno. O coração é a Casa do Sol, a morada do Si-mesmo. O caminho do divino é o caminho do coração, tanto na vida como na morte. O princípio de Hórus ilumina esse caminho. 
Também nas vivências do escritor francês Antoine Artaud o sol foi símbolo da consciência que ele buscou.  Em 1936, vai ao México com a meta de reviver os vestígios da antiga cultura asteca que usava alimentar os deuses elevando corações ainda pulsantes em sacrifícios ao sol. Confiavam que receberiam em troca a renovação da vida e a imortalidade.  O sol, na psicologia junguiana, é tanto símbolo do ego, o centro da consciência, quanto do Si-mesmo e representa o poder criador da psique.
Na visão da Dra. Nise, ir até lá não foi para Artaud certamente uma atitude de pura curiosidade em relação a uma população exótica, mas uma busca secreta de fortalecimento de si mesmo. Coincidência ou não, sabe-se hoje sobre a influência da exposição à luz solar sobre neurotransmissores como a serotonina diretamente relacionada aos estados de humor e bem-estar, uma base natural importante para a reconstrução da unidade psíquica. 
Em 1982, o ano seguinte a minha ida à exposição "Imagens do Inconsciente" foi um turning point. Como uma flor que se move em direção ao sol por uma espécie de instinto que busca a luz, rumei numa nova direção movida por novos interesses muito mais verdadeiros dentro de mim. No campo profissional mergulhei no universo da psicologia, me especializando mais tarde na abordagem junguiana.

Essa associação de eventos me veio à memória 24 anos depois, no instante em que recebi a flor das mãos do José Alberto, paciente do Museu de Imagens do Inconsciente. Rápido como um déjà vus... foi um raio de sol que tocou meu coração.  
E lembrando Carlos Castaneda..."um caminho é só um caminho, e não há desrespeito a si ou aos outros em abandona-lo, se é isto que o coração nos diz... examine cada caminho com muito cuidado e deliberação. Tente-o muitas vezes, tanto quanto julgar necessário. Só então pergunte a você mesmo... Este caminho tem coração? Se tem, o caminho é bom, se não tem ele não lhe serve. Um caminho é só um caminho. "

NOTA:
(1) O olho de Hórus ou "Udyat"é um simbolo proveniente do Egito Antigo, que significa poder e proteção, relacionado ao deus Hórus. É um dos amuletos mais usados no Egito. 
(2) Fonte: Silveira, Nise. Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.