quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

123- O Pastoreio do Touro e as Etapas do Zen (2/3)


DOMESTICANDO O TOURO

(Continuação da Postagem 121)
Com o nascimento de um pensamento, outro e outro mais nascem também. A iluminação traz à realização, pois estes pensamentos são irreais, já que não surgem de nossa verdadeira natureza. Somente porque a ilusão permanece, são os pensamentos tidos como reais. Este estado de ilusão não se origina no mundo objetivo, mas em nossas próprias mentes.
“Ele deve segurar o touro com força pela corda do nariz
e não permitir que vague sem cuidado.
Ele se torna limpo e claro. Sem cabrestos,
segue o dono por sua própria vontade.”






INDO PARA CASA MONTADO NO TOURO
A luta acabou, “ganho e perda” não mais afetam. Ele murmura canções rústicas dos montanheses e toca as cantigas simples da meninada da aldeia. Montado no lombo do touro, olha serenamente as nuvens que passam. Sua cabeça não se vira (na direção das tentações). Tente-se, como quiser, aborrecê-lo, e ele permanece imperturbável. “Usando um grande chapéu de palha e capa,
montado e tão livre quanto o ar,
ele alegremente vem para a casa através das neblinas do entardecer.
Aonde quer que vá, cria a brisa fresca,
enquanto que no coração prevalece a profunda tranqüilidade.
 O touro não requer nem um talo de capim.”




No dharma não há duas coisas. O touro e sua natureza original. Isso ele reconhece agora. A armadilha não é mais necessária quando o coelho foi capturado, a rede se torna inútil quando o peixe foi apanhado. Como o ouro separado da escória, como a Lua que apareceu entre as nuvens, um raio de luz brilha eternamente. “Somente com o touro ele pode chegar a casa
mas agora o touro desapareceu e só e sereno senta o homem.
O sol vermelho passa alto no céu enquanto ele sonha placidamente.
Lá embaixo do telhado de sapé jazem, sem uso, chicote e corda.”




(Continua na postagem 124)

NOTAS:
1) Fonte ZEN-BUDISMO, Planeta especial,  188-A.
2) Agradecimento à indicação da amiga Claudia Leal.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

122- Boi Arnaldo Antunes (Matadouro-Boi - 3/3)



Inspirado como um boi no pasto
Inspirado bem alimentado e casto
Inspirado como um boi sem saco
Pacato, capado sem pecado

Como um boi mascando seu amido
Tudo lindo e semi-adormecido
Som macio e gosto colorido
E o vazio lotado de infinito

Inspirado e gordo como gado
Carne fresca recheando o couro
Com um olho para cada lado

Inspirado como nenhum touro
Inspirado como um boi pesado
Esperando amor no matadouro 
(Inspirado,  de Arnaldo Antunes  e Edvaldo Santana

Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho nasceu em São Paulo capital, em 1960. Cursou sem concluir a Faculdade de Letras da USP. Faz música, poesia e performances  desde 1980, de inicio como  integrante da banda Performática. Logo em seguida, foi líder de uma das mais famosas bandas brasileiras de rock: os Titãs, o que reforçou sua imagem na mídia como pop star. Disse ele: "sou um pouco tímido...desde sempre, talvez. Mas acho que trabalhar com música foi uma grande arma contra a timidez... Quando estou no palco, não represento papel algum. Sinto integralmente eu, só que é um eu que tem um sentimento catártico, baixa um santo que sou eu mesmo... Me alimenta muito fazer show."
Letrista e poeta, Antunes publicou varias antologias. É considerado  um dos autores mais talentosos  do movimento de poesia concreta.  Mas, segundo ele: "as coisas, vistas dessa maneira, ficam reduzidas. Tenho afinidade e admiração pelos poetas concretos e sou influenciado por suas obras. Também tenho influência de outras áreas, como por exemplo, da tradição de letras de músicas da MPB, da cultura pop, do rock and roll e de outras áreas da literatura. Acaba sendo engraçado, pois, não tenho nenhuma pretensão de equiparar minha poesia com a dos poetas concretos. O trabalho deles é mais  sofisticado..."
A partir de  1992, expande sua forma de expressão,  incorporando à poesia recursos da computação gráfica e vídeo. Lançou seu primeiro álbum-solo Nome (1993), acompanhado de um vídeo e um livro, compondo um projeto multimídia com poesia, música e animação em computador. A partir de então,  esses diálogos entre diferentes linguagens começaram a ser a cada vez mais constantes em sua obra.
Multimídia , multifacetado, inspiração foi o que nunca faltou a Arnaldo Antunes.  Seu olhar é  instigante, transgressor de lugares comuns. E  lugar comum é o que não falta, até pra hora da morte. Em Inspirado, Arnaldo é o boi no matadouro esperando o amor.
"Eu trabalho com criação , desejo experimentar, questionar o gosto comum, ampliar e, de alguma forma, alterar a sensibilidade das pessoas. Porque só trabalhar no terreno da redundância não tem graça."

Notas:
1) Aqui neste blog, outros artistas que se inspiraram no tema Boi-Matadouro: Cora Coralina (postagem 119) e Ronald Duarte (postagem 120);
2) Referencias:
ANTUNES, Arnaldo. Nome. São Paulo: s.n., 1993. 108 p., il. color;
Estado de S. Paulo – Zap!, Julio Cesar Caldeira, Renata De Grande e Ludmila V, 1999;
3) https://www.youtube.com/watch?v=kAN7rC4DgDM
4) Agradecimento especial à Sonia Hirsch pela inspiração.