sábado, 15 de janeiro de 2011

18- Eu e o Boi


No meu primeiro contato com o boi, o boi era simplesmente um boi. Um boi que trabalhava, que puxava carroças, que procriava e que virava comida.
Durante a infância e o início da adolescência eu passava boa parte das férias escolares visitando as fazendas dos meus avós e tios maternos. Dessa época guardo a lembrança de dois seres bovinos especiais.
Um era o Cassius Clay. Um touro preto, parrudo, bonito, cuja única função era reproduzir. Cheguei por lá em 67 dizendo que o campeão de boxe tinha mudado seu nome pra Muhammad Ali e que Cassius (o boi) também deveria mudar. Argumentei os bons motivos da troca: o não à guerra do Vietnam, o não à segregação racial... Ninguém deu a menor bola!
A outra especial era a Vaca Mochinha. Como a Vaca Mocha do Sítio do Pica-Pau Amarelo de Monteiro Lobato, ela não tinha chifres. A Mochinha era franzina e mansa como um cordeirinho. Adorava entrar na cozinha pela porta dos fundos. Espero nunca ter comido um bife da coitadinha.

 Nota:
Na foto: meu irmão Guilherme, eu e a Vó  Zila. Minha avó teve 14 filhos. Nunca mudou de penteado desde quando se casou aos 15 anos. Usava sempre um coque gordo feito com seus cabelos que iam ate abaixo da cintura.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

17- Eu na Farra do Boi (2a parte de 2) - Versos de amor dedicados à descoberta da vida simbólica

Como um cego que encontra um tesouro no meio do lixo
Tornei-me consciente do valor da vida humana que me foi dada

Encontrei a árvore frondosa que abraça os caminhos da existência
O grande sol que aclara as trevas sombrias da ignorância

Assim meu nascimento começou a dar frutos...
Notas:
1)Foto Mariza Almeida - Farra do Boi, MAM/89
2)Sobre A Farra do Boi e experiência simbólica leia arquivos anteriores deste blog.
3)Versos inspirados na 'Aspiração do bodisatva'.

domingo, 9 de janeiro de 2011

16- Eu na Farra do Boi (1a parte de 2) - A Experiência Simbólica

Tenho viva essa experiência até hoje. É fácil reconectar a sensação de felicidade comigo mesma, integrada ao que acontecia dentro e fora de mim.
Será que posso chamar isso de nirvana?
No budismo, nirvana é o estado de plenitude ausente de sofrimento, a que se chega por uma evasão do ego. É também a realização da sabedoria.
Em termos da psicologia junguiana essa busca equivale à busca da vida simbólica.
Sendo simbólica, a experiência se desdobra em significados, sem tempo.
Naquela Farra do Boi havia vários símbolos de transformação.
Como num sonho, a Dra Nise representou na minha visão a velha sábia. O efeito de imagens como essa é que elas dão ao indivíduo um sentimento de direção para uma imaginável ou realizável ampliação da consciência.
No ‘sonho’ ela organizou e integrou na palco do MAM, um importante espaço cultural da vanguarda artística brasileira, vários aspectos da sombra pessoal e coletiva representados pela figura do boi.
Os antigos diziam que o sonho traz uma mensagem vinda diretamente do coração ( hoje dizemos diretamente do inconsciente).
Essa mensagem 'se escreve' através do símbolo. Entendê-lo e relaciona-lo à nossa vida objetiva promove direção e cura. 
A mensagem desse ‘sonho’ da Farra do Boi me diz que é somente através da consciência e da aceitação do nosso lado mais frágil que ultrapassamos as limitações do ego.
Saber disso me ajuda sempre.

Notas:
(1)Sobre símbolo: o rompimento teórico entre Jung e Freud se deu em parte por divergências quanto ao conceito, intenção ou conteúdo do símbolo. Na visão junguiana que é aqui utilizada, o símbolo se expressa por analogias, através de imagens, ‘é uma idéia intuitiva que ainda não pode ser formulada de outra forma, ou de uma melhor forma’(CW 15, parag. 105).
(2)Sobre A Farra do Boi e sombra ler postagens anteriores no arquivo desse blog.
(3)Referência bibliográfica: “Ego e Arquétipo, Uma síntese fascinante dos conceitos psicológicos fundamentais de Jung”, de Edward F. Edinger, ed. Cultrix.
(4)Foto De Mariza Almeida - ‘A Farra do Boi’- MAM/1989

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

15- Nós na Farra do Boi

 

Cheguei naquele dia no pátio do MAM motivada por pura curiosidade.
Fiquei sabendo do evento pela amiga fotógrafa Mariza Almeida que se lembrou de me chamar porque sabia da máscara de boi-da-cara-preta que eu acabara de fazer.
Digamos que por mera coincidência, pouco antes do Carnaval daquele ano, convidei os amigos que queriam aprender comigo a técnica de papier maché para fazermos máscaras de animais. A idéia era doarmos as máscaras para crianças carentes. Não podia imaginar que antes delas, seríamos nós que as usaríamos e para um propósito tão nobre.
O evento fez parte do movimento 'A queda da Farra do Boi' criado em 1989 numa parceria da Dra. Nise da Silveira com o Circo Voador. Além do desfile no MAM com bateria e alegorias da Mocidade Independente de Padre Miguel, houve também uma exposição do consagrado artista plástico mato-grossense Humberto Espíndola, criador e difusor do tema bovinocultura.
Ninguém quis patrocinar, só o 'Bicho' na figura do Castor de Andrade.
Indagada por Perfeito e Biel Fortuna sobre a procedência do apoio, Dra. Nise não pestanejou e disse: 'venha de onde vier'!
O cartaz do desfile dizia: ‘O boi agradece ao Bicho’.
E eu agradeço ao Biel meu amigo do Facebook e de tantos outros espaços luminosos pelas informações adicionais.

Notas:
1)Sobre A Farra do Boi, clicar na barra ao lado postagens anteriores do Arquivo do Blog;
2)A frase do cartaz foi criação e produção dos irmãos Fortuna
3)Na foto de Mariza Almeida: o Zé Papagaio é Valéria Santos, o Boi-da-cara-preta sou eu e o Bicho ET é Rosangela Carnevale;
4)Sobre Humberto Espíndola postagem 25 deste blog. Aguarde!