quarta-feira, 26 de outubro de 2011

57- O Boi versus a Ditadura Militar (parte 4 de 4) Existirmos... a que será que se destina?



cajuína em flor
Quem é o boi? Quem é o homem?
“Leve um homem e um boi ao matadouro. o que berrar mais na hora do perigo é o homem,nem que seja o boi...”  (Pessoal Intransferível – de Torquato Neto )

Natural do Piauí, Torquato Neto foi poeta e importante letrista de canções icônicas do movimento tropicalista. Sempre presente nas rodas culturais efervescentes da época, atuou nos anos 60 como agente cultural polemista e defensor das manifestações artísticas de vanguarda. Com o AI-5 e o exílio dos amigos e parceiros Gil e Caetano, viajou pela Europa e Estados Unidos morando em Londres por um breve período. De volta ao Brasil, no início dos aos 70, Torquato entrou em depressão, sentindo-se alienado tanto pelo regime militar quanto pela patrulha ideológica de esquerda. Escreveu a Hélio Oiticica: “O chato aqui é que ninguém mais tem opinião sobre coisa alguma...Tudo parado.”
Torquato se matou um dia depois de seu 28º aniversário, em 1972. 
Após a morte do seu amigo, Caetano foi fazer uma visita ao pai dele. Ambos passaram muito tempo em silêncio até que o pai de Torquato saiu para o jardim e de lá voltou com uma flor da cajuína. Foi esse o gesto inspirador da canção Cajuína, de Caetano Veloso:
“Existirmos - a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos, intacta retina: 
A cajuína cristalina em Teresina”

Fonte: “Pra mim chega, a biografia de Torquato Neto”, Toninho Vaz, Ed. Casa Amarela, 2004.

domingo, 16 de outubro de 2011

56- O Conto Chinês

“Era uma vez na China, um mestre e um discípulo que andavam por uma estrada. O caminho era inóspito, agressivo. O ambiente não era favorável à vida. Avistaram, ao longe, uma casinha de aspecto miserável e para lá se dirigiram.
Foram abrigados pelo dono da casa e sua numerosa família que com eles compartilharam sua escassa comida e seu espaço para dormir. A alimentação provinha de uma única fonte: uma única vaca da qual tiravam leite e seus subprodutos.
Mestre e discípulo ficaram ali mais alguns dias e depois partiram.
Algumas horas depois da partida, o mestre disse ao discípulo:
- Volte lá, às escondidas, e jogue a vaca no penhasco.
Incrédulo, o discípulo argumentou:
- Mestre, o único bem dessa numerosa família é a vaca! O senhor me pede para jogá-la no penhasco?
- Sim - disse o mestre. Jogue a vaca no penhasco.
Mesmo sentindo uma enorme culpa o discípulo obedece ao mestre.
Anos depois mestre e discípulo voltam aquele mesmo lugar. Sem nada dizer ao mestre, o discípulo decide pedir perdão àquela gente por ter jogado a vaca do penhasco. Assim, sai à procura da pobre casinha, mas só o que vê é uma construção ampla e confortável. As pessoas alegres e bem vestidas, num ambiente onde o progresso era evidente. Pergunta a um deles:
- Há uns anos atrás aqui havia uma pequena e pobre casinha. Saberia me dizer para onde foram aquelas pessoas?
- Somos nós. Moramos aqui desde sempre - respondeu o homem.
- Mas, o que aconteceu? - disse, olhando o progresso a sua volta.
- Bem - disse o homem. Aconteceu numa noite um terrível acidente em que nossa vaca, nossa única vaca, caiu do penhasco e ficamos sem nossa fonte de sustento. Não tivemos alternativa, a não ser buscar outros recursos. Descobrimos, então, nossas próprias capacidades.”

O mestre é aquele que vê além das aparências, diferentemente do discípulo que só é capaz de enxergar o que está diretamente a sua frente. O mestre viu que a ausência da vaca, um aparente infortúnio para aquelas pessoas, consistia na sua verdadeira fortuna.
A vaca representa o recurso externo fácil e imediato no qual aquela família se apoiava e projetava seus recursos internos, que ficavam assim desconhecidos, na sombra (1).
Enquanto a vaca estava lá viviam o dia-a-dia, sobrevivendo sem pensar no amanhã, como animais, só experienciando os instintos da fome e sexual. A partir da falta da provedora, novos recursos internos se manifestaram instintivamente através da criatividade, do movimento e da reflexão.
Mas claro que essa estória é um “faz de contas”. Um verdadeiro mestre jamais mandaria matar a vaquinha!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

55- O Boi Manequim


Segundo J. Chevalier e A. Gheerbrant (1) o manequim é um dos símbolos da identificação do homem com a matéria perecível, com uma sociedade, com uma pessoa; a identificação com um erro. É assimilar um ser à sua imagem. É tomar a imagem pela realidade.
Mas o que dizer quando o manequim é um boi de verdade? 
O Boi Manequim(2) não é um boi voador (3), mas deu o que falar!
Sua história começou de maneira trágica quando um caminhão carregado com bois tombou em maio de 2011, na Rodovia Assis Chateaubriand, que liga São José do Rio Preto a Guapiaçu, cidades no interior de São Paulo. Vários animais ficaram soltos na pista. Alguns foram atropelados e um grande congestionamento se formou na rodovia. O motorista do caminhão foi encaminhado ao Hospital de Base de Rio Preto, onde morreu.
O boi correu sozinho 2 km pela estrada. Entrou na área urbana de São José do Rio Preto, invadiu uma loja de roupas e lá ficou preso na área da vitrine, sem conseguir sair.
A polícia teve que interromper o trânsito na rua para não deixa-lo nervoso. Antes de escapar quebrando a vitrine ele foi fotografado e filmado, tendo sido batizado, a partir de então, de Boi Manequim.
Alguns metros à frente da loja, ele foi laçado e dominado por peões.
Graças a sua façanha,o Boi Manequim ficou famoso. Virou primeira página de jornal e apareceu até na televisão, para depois se tornar  um filantropo(!), ajudando o Hospital do Câncer de Barretos. Um animal de seu porte com dois anos e pesando 400 kg vale normalmente em torno de R$ 1,3mil, mas por conta da sua fama foi leiloado pela quantia de R$ 15mil que foi doada para este hospital.
A estória do Boi Manequim  faz lembrar a estória de Forrest Gump. Dirigido por Robert Zemeckis com Tom Hanks no papel-título, o filme de 1994 é baseado no romance homônimo de 1986 escrito por Winston Groom. 
Forrest Gump é  um homem simples do Alabama que por mero acaso vira herói, influenciando alguns dos eventos históricos mais notórios da segunda metade do século XX.

Fontes:

(1) Dicionário de Símbolos; José Olympio Ed.
(2) asnovidades.com.br/2011/boi-na-vitrine-de-roupas/
(3) Ver postagens: 52- O Boi na MPB versus a Ditadura Militar ( parte 2 de 4) - O Boi Voador, de 5 de setembro de 2011
e  56- O Conto Chinês,  de outubro de 2011, deste blog.