segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

63- O Boi na Grécia (parte 10 de 11) - O Mito de Órion, o caçador


Constelação de Órion

Do sacrifício do animal nasce Órion, o grande caçador.
Diz o mito que certa vez os deuses Zeus, Poseidon e Hermes estavam na Terra e precisavam pernoitar em algum lugar. Hermes solicita a casa de Hireu que temeroso concorda com o pedido e oferece uma novilha em sacrifício para homenageá-los. Os deuses sensibilizados permitem-lhe um desejo. Hireu pede um filho para dar continuidade ao seu nome.
Os três deuses implantam uma gota de sêmen de cada um no couro da novilha morta. Na cova onde estavam os restos da novilha nove meses após ter sido enterrada, surge num terremoto Órion, o gigante caçador.
Concebido sem mãe e nascido dos restos de um animal, sua alma permanece primitiva sem sentimentos morais, mas com força, velocidade e sentidos aguçados. Era um ser estranho que não tinha amigos, a não ser Enopião, o fabricante de vinhos.
Certo dia, Órion estupra animalescamente Mérope, a mulher de Enopião. Como vingança, Enopião embriaga Órion e vaza seus olhos, tão necessários a sua função de caçador.
Órion vagueia às cegas e sem destino até encontrar o deus Hefestos que o aconselha a expor seus olhos ao deus Hélio, o Sol, para receber de volta a luz.
Pela manhã, o deus Hélio aparece no horizonte. Entrega um feixe de raios solares à deusa Aurora que inicia a distribuição sobre a vegetação ainda molhada pelo orvalho. Os raios solares entram nos olhos de Órion e ele recupera a visão. Com os olhos ardentes de fogo, vê à sua frente Aurora, por quem se apaixona possuindo-a imediatamente. Órion deduz serem as mulheres presas fáceis.
A caminho de vingar-se de Enopião, encontra a deusa Artemis, a caçadora, e tenta seduzi-la. Na luta contra o desejo de Órion, Artemis bate uma clava no chão lodoso, surgindo das profundezas um animal terrível e venenoso, um escorpião.
E o grande caçador morre ao ter seu coração envenenado pela ferroada do escorpião.
Esta cena é imortalizada no céu na constelação de Órion, onde ele aparece ao lado do escorpião, combatendo um touro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

62- O Touro Alado Assírio


Assim como o Minotauro (1), Hathor (2) e Moloch (3), o touro alado assírio (foto) é uma representação híbrida com parte bovina.
Na biologia é híbrido o animal originário do cruzamento de duas espécies diferentes como, por exemplo, a mula. Na mitologia são seres fabulosos que agregam formas de espécies diferentes, parte-homem, parte-animal. O híbrido é uma perturbação da ordem natural e por isso é visto em diferentes culturas como sagrado. A composição de seus corpos não é sem razão, obedecem a certas leis. 
O touro alado das planícies assírias tem corpo de leão, asas de águia, cabeça de homem e patas de touro. Representa as qualidades ideais reunidas para a função a que se destina de guardião das portas do palácio. Sua cabeça humanizada é um signo favorável. A parte superior, mais próxima das coisas nobres, é ocupada pelo que se considera superior e compatível a ela – o humano. Os aspectos animais ocupam posições subordinadas e complementares. O leão associado à águia simbolizariam, o corpo e a alma. As patas de touro marcam as qualidades de força e estabilidade ligadas à terra.
São os mesmos quatro símbolos que correspondem segundo a visão do profeta Ezequiel, aos quatro evangelistas da tradição cristã (4). O que você acha dessa "coincidência"?


NOTAS:
(1)Ver postagens 36, 37, 39 e 40, de abril e maio de 2011.
(2) Ver postagens  32 e 61 de março e dezembro de 2011, respectivamente.
(3) Ver postagem 38, de maio de 2011.
(4) Ver postagem 33, de abril de 2011.
(5) Fontes O Poder do Mito, de Joseph Campbell e Dicionário de Símbolos, de J. Chevalier e A. Gheerbrant.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

61- Dra Nise da Silveira na Cowparade!


Em sintonia com o blog Oficinas de Individuação, que iniciou sua pesquisa sobre os simbolismos do boi a partir do encontro com a Dra Nise da Silveira no evento A Queda da Farra do Boi (1), a artista plástica Juliana Campos (2) homenageou a Dra Nise com uma vaquinha na cowparade (3).

Oficinas de Individuação: Juliana, qual sua ligação com a Dra Nise?
Juliana Campos: Quando comecei a cursar a faculdade de arte percebi o quanto é terapêutico trabalhar com as imagens, minha mente concentra e percebo os sentimentos que emergem na tela de pintura. Por conta disso fui conhecer o Museu de Imagens do Inconsciente e o trabalho da Dra Nise. Em 2009, entrei na faculdade de psicologia e como pesquisadora no museu, para ajudar os clientes a prepararem trabalhos para a exposição Sermentear, no Centro de Arte Maria Tereza Vieira, no Rio de Janeiro. Em 2011, fiz o concurso publico Acadêmico Bolsista para estagiar no museu como psicóloga onde aprendo a cada dia a dinâmica dos ateliês terapêuticos e a importância que eles têm no tratamento psíquico. E é claro sempre seguindo os ensinamentos da Dra Nise!
O.I.: Como foram a inspiração e a experiência de fazer a vaquinha Nise da Silveira para a cowparade?
J.C.: Conheci a cowparade em 2007, da vez primeira aqui no Rio. Achei o máximo! Como estava cursando a faculdade de Arte em Londres não pude participar. Dessa vez, meu namorado me disse, um dia antes do concurso terminar que eu podia mandar um projeto. Fiz o projeto e esqueci completamente. Quando recebi o e-mail dizendo que tinha sido selecionada fiquei muito feliz em ter a oportunidade de pintar uma vaca em tamanho real e poder homenagear a Dra Nise (foto).
A Dra Nise diz em seu livro Imagens do Inconsciente: “No Egito do período arcaico,  a Grande Deusa chamava-se Hathor e tinha a forma de uma vaca. Ela era a grande mãe do mundo e a Hathor cósmica, antiga, personificava o poder da natureza que perpetuamente está concebendo, e criando, e parindo, e exaltando, e mantendo todas as coisas grandes e pequenas”. 
A vaca é o melhor bicho para homenagear Nise da Silveira, a nossa grande mãe. Inspirei-me no interior dos mandalas para fazer meu desenho mostrando formas circulares e coloridas. Senti varias transformações ao longo do processo pelas dificuldades de pintar um bicho tão grande e pelo prazo de entrega. Me virei em mil, mas valeu a pena, pois o resultado ficou incrível. Fiquei orgulhosa. A reação das pessoas também foi muito positiva e a vaca levou as pessoas a procurarem saber mais sobre quem é Nise da Silveira. 
O.I.: Alguma mensagem?
J.C.: Nada melhor do que citar os ensinamentos de Nise: “O que melhora no atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com outra. O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceitos”.

NOTAS:
(1) Sobre a Dra Nise da Silveira e a Queda da Farra do Boi veja as postagens iniciais desse blog.
(2) Sobre Juliana Campos visite o site www.julianacampos.com
(3) A cowparade é um projeto artístico de cunho social que circula por várias cidades do mundo desde 1999. São vacas em tamanho real pintadas por diferentes artistas que depois do período de exposição são leiloadas. O dinheiro é revertido para entidades filantrópicas. Cem delas poderão ser visitadas em diversos pontos do Rio de Janeiro até 15 de dezembro de 2011.  Para mais informações consulte o site: http://www.cowparade.com.br/rio/galeria.php