segunda-feira, 2 de julho de 2012

78- Boi Morto, de Manoel Bandeira



foto: manoel bandeira ao violão

"Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Dividido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvores da paisagem calma,
Convosco - altas, tão marginais! -
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai como o boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi descomedido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto.

Boi morto, boi morto, boi morto!"(1)

Cada um com seu boi.
Boitempo (2) é o boi de Carlos Drummond de Andrade. Boipaisagem (3) e Boicheiro (4) são os bois de Ferreira Gullar e de Cora Coralina. Os bois que sonham e conversam são os de Graciliano Ramos (5). O boi notabilizado por Manoel Bandeira é o Boi Morto.
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho nasceu em Recife, em 19 de abril de 1886 . Foi poeta,crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Possuidor de um estilo simples e direto, é tido por alguns como o mais lírico dos poetas. Sua obra é permeada por certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver.  Sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente. A perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra. Faleceu no dia 13 de outubro de 1968, com hemorragia gástrica, aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, tendo sido sepultado no túmulo 15 do mausoléu da Academia Brasileira de Letras.
“Boi morto” foi alvo de diversas polêmicas desde sua primeira publicação em 1951. Alguns criticaram o hermetismo excessivo, outros a falta de uma vinculação mais clara com os problemas políticos e sociais do tempo. Diferente da fluidez e da expressão cristalina de alguns dos poemas mais conhecidos do autor, “Boi Morto” convida à exploração de outras dimensões, em que a precisão combina-se com o mergulho no indizível a partir de sonoridades, remissões e associações.
O “boi” de Manoel Bandeira fala do estado de fragmentação, destruição e dilaceramento subjetivo.


NOTAS:
1) Fonte: Grupo de Estudos C. G. Jung, Coordenação Dra Nise da Silveira; "A Farra do Boi", do sacrifício do touro na       antiguidade à farra do boi catarinense"; Numen Editora/Espaço Cultural-89/RJ
2) Postagem 74 deste blog;
3) Postagem 75  deste blog;
4) Postagem 76 deste blog;
5) Postagem 77 deste blog;
6) Fonte: Flores, Wilson -UFRJ, XII Congresso Internacional da ABRALIC 2011- UFPR . http://www.abralic.org.br/anais/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0214-1.pdf