terça-feira, 18 de novembro de 2014

121- O Pastoreio do Touro e as Etapas do Zen (1/3)


Nos dez quadros do pastoreio do touro, o mestre zen Kaku-as Shi-em na dinastia Sung, ilustrou as etapas do Zen. Ali está o homem, dividido em personalidade e espírito, esquecido da pureza original, lutando contra tudo, incapaz de distinguir entre a falsidade e a verdade. Mas, ao prestar atenção àquilo que o rodeia, percebe, através dos sentidos, a verdadeira natureza das coisas, eliminando toda noção de ganho e perda, de claro e escuro. Enfim, a dualidade desaparece quando se recupera a natureza original.




 
PROCURANDO O TOURO   
O touro, na realidade, nunca foi perdido. Então, por que procurá-lo? Tendo dado as costas à sua verdadeira natureza, o homem não pode vê-lo. Por causa de suas ilusões, ele perdeu o touro de vista. Repentinamente, se acha confrontado por um labirinto de encruzilhadas. Desejos de ganhos e medos de perdas sobem como chamas; idéias de certo e errado aparecem como punhais.
“Desolado através da floresta, com medo, nas selvas, ele procura o touro e não encontra.
Para lá e para cá, grandes rios sem nome;
nas profundezas dos ermos das montanhas ele segue muitas veredas.
 Cansado de coração e corpo, continua sua busca por aquilo que não pode ainda encontrar.
 De tardinha, ouve as cigarras cantando nas árvores.”



ENCONTRANDO A PISTA
Através dos sutras e ensinamentos, ele vislumbra as pegadas do touro. Foi informado que, assim como diferentes vasos (de ouro) são todos basicamente do mesmo ouro, assim também cada coisa é uma manifestação do próprio ser. Mas ainda é incapaz de distinguir o bem do mal, a verdade da falsidade. Não entrou ainda pelo portão, mas vê, numa tentativa, a pista do touro.
“Inumeráveis pegadas ele viu na floresta e nas margens das águas.
Não é aquilo que ele vê adiante, mato amassado?
 Mesmo nas mais profundas grotas ou nos mais altos picos,
 não pode ser escondido o nariz do touro que alcança para os céus nas alturas.”






PRIMEIRO VISLUMBRE DO TOURO



Se ele somente escutar os sons de cada pegada, virá à realização e, naquele instante, verá a própria origem. Os seis sentidos não são diferentes desta verdadeira origem. Em todas as atividades a origem está manifestadamente presente. E análoga ao sal na água, à liga na tinta. Quando a visão interna está corretamente focada, realiza-se, que o que é visto é idêntico á origem.
“Canta o rouxinol num galho
o sol brilha nos salgueiros que ondulam;
ali está o touro, onde poderia esconder-se?
A esplêndida cabeça, os majestosos chifres,
 que artista pode retratá-lo?”





SEGURANDO O TOURO





Hoje ele encontrou o touro que estava vadiando pelos campos selvagens. E verdadeiramente o pegou. Por tanto tempo se comprazeu nestes arredores que quebrar seus velhos hábitos não é fácil. Continua querendo o capim cheiroso, está ainda indócil e teimoso. Para domesticá-lo, completamente, o homem deve usar o chicote. “Ele deve segurar firmemente a corda e não soltar
a agora ele corre para as terras altas
 agora demora-se nas ravinas enevoadas.”






(Continua na postagem 123)

NOTAS:
1) Fonte ZEN-BUDISMO, Planeta especial,  188-A.
2) Agradecimento à indicação da amiga Claudia Leal.