quinta-feira, 26 de setembro de 2013

103- Temple Grandin, autista Ph.D: Um Caso de Compaixão pelo Boi


O filme Temple Grandin , ganhador de cinco Emmys, mostra como a compaixão de uma jovem americana autista possibilitou que ela chegasse a um grande feito no ramo da pecuária. É uma história real e fascinante.
Temple nasceu autista, coisa que na época ninguém conhecia muito bem. Seu jeito peculiar de pensar e seu comportamento  antissocial eram mal vistos por professores e colegas de escola na infância. 
Frequentemente brigava com outras crianças. Tinha dificuldade de aprender, porque as coisas para ela seguiam uma lógica particular. O que poderia deixa-la mais calma era um abraço bem forte, mas isso ela não conseguia dizer nem à sua mãe. A necessidade não expressa de ser abraçada transformou-se numa ideia fixa:  tinha que construir uma "máquina de abraço". 
"As fixações podem ser canalizadas para fins construtivos. Remover a fixação pode ser uma imprudência", diz Temple em sua autobiografia Uma menina Estranha (Cia. das Letras, 1999). Capaz de visualizar formas de grande originalidade, Temple relata que o autista pensa através de imagens. Ainda adolescente começou a projetar em sua mente um equipamento capaz de apertá-la até o alívio de suas tensões, e não se daria por satisfeita até colocar sua ideia em prática. 
Sem qualquer conhecimento técnico prévio, Temple intuiu que o brete (FOTO) usado para segurar a rês para curativo, vacina, marcação, etc, pudesse ser adaptado para ela. O brete bem apertado ao corpo do animal, é também usado para mantê-lo calmo antes do abate. Temple sabia que era disso que precisava. Identificou o medo que sentia no seu dia-a-dia com o medo da morte que supôs a rês sentir ao pressentir o abate. Então resolveu testar. Entrou no aparelho como se fosse um boi, puxou suas cordas e sentiu o alívio que desejara por anos. A partir daí, com o apoio de um professor do colégio rural em que estudava, dedicou-se ao estudo do bem-estar animal, e consequentemente também do seu próprio. Anos mais tarde, após muitos estudos acadêmicos, tornou-se Ph-D em abate humanitário, e é atualmente uma referência a respeito do autismo. 

Numa palestra, em 2004, o lama do budismo tibetano, Padma Samten, falando sobre compaixão e amor, disse:
"Digamos que alguém olha para uma planta que se encontra num vaso dentro de casa. Pelo olhar compassivo, ao invés de observar se gosta ou não da planta, se  pergunta: como esta planta deve se sentir sem a luz do sol? e sem a água da chuva? e sem outras plantas amigas e companheiras? Quando olhamos para algo pensando se gostamos ou não, nossa mente opera obstruída pela sensação de gostar ou não gostar. Uma inteligência maior é quando olhamos para algo, para uma planta por exemplo, nos perguntando do que ela necessita. E mais do que isso, nós podemos olhá-la e ver com os olhos do bom jardineiro, quais as flores e frutos que essa planta tem escondidos dentro dela, e que ela mesma não sabe (...) Olhar o outro e ver o que afeta sua existência de forma positiva para remover os obstáculos, isso é compaixão. E o olhar que  promove suas qualidades positivas, isso é amor."

Temple escreveu: "Paradoxalmente, foi no matadouro que eu aprendi a dar afeto". Em outras palavras, pode se dizer que o boi, na situação de medo e isolamento diante da morte, fez despertar em Temple a inteligencia maior da compaixão.  

Fontes:
http://www.universodoconhecimento.com.br
http://colunas.revistaepoca.globo.com
http://goiania.olx.com.br

Veja:
http://www.youtube.com/watch?v=cpkN0JdXRpM

Agradeço à Andrea Travassos pela dica para essa postagem.

3 comentários:

  1. Marilene Séllos, via email;
    "Quanta sensibilidade! no seu texto.Me ponho a pensar, na importância de dar espaço em nosso viver, para que nossa "máquina do abraço", possa ser um continente, para "o que afeta a existência" do outro.Forte abraço."

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  2. Cito Vw Nonno:
    "Nem sempre o ser humano fraco percebe que julga força sua maior fraqueza: a incapacidade de estender a mão e sentir a humanidade do outro. É dela que surgem as efêmeras glórias e o sentimento de espúrio poder. É possível viver bem sem alcançá-los. Sem a dignidade e a compaixão, conquistadas a duras penas, não. Seríamos meros títeres de um mundo sombrio."

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  3. Cito Eduardo Galeano:
    "Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor...
    O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante.
    O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada.
    O sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços”. (A fome/2)

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