segunda-feira, 16 de maio de 2011

39- O Boi na Grécia (parte 4 de 11) : O Minotauro e a Coroa de Ariadne

Mapa Celeste-detalhe
 Constelação Corona Borealis, a coroa de Adriadne (1)
Monstro de corpo de homem e cabeça de touro, o Minotauro simboliza o resultado de um estado de dominação perversa de Minos e de Pasífae.
Minos é a avidez de poder, a inconseqüência, a leviandade, enquanto Pasífae é a soma de um amor culpado, um desejo desmedido, o erro, recalcados no labirinto do  inconsciente.
Os sacrifícios consentidos ao monstro são novas faltas que se acumulam, são mentiras e subterfúgios que alimentam ainda mais esse estado.
Aquilo que permite Teseu retornar à luz, representa o auxílio espiritual necessário para vencer esse monstro.
Segundo uma lenda, não foi apenas o fio de Ariadne que permitiu Teseu voltar das profundezas do labirinto, mas também sua coroa luminosa. (1)
A forma circular luminosa da coroa indica a perfeição e a participação da natureza celeste unindo na pessoa do coroado o que está abaixo com o que está acima dele. É um prenúncio de uma época pura, regenerada que se segue a um período de trevas.
Segundo o psicanalista e mitólogo Paul Diel, o mito do Minotauro simboliza em seu conjunto o combate espiritual contra o recalque, que é a exclusão do campo da consciência de certas idéias, sentimentos e desejos, que o indivíduo não quisera admitir, e que, no entanto, continuam a fazer parte da vida psíquica, suscitando, não raro, graves distúrbios. 

NOTAS
(1) Numa versão do mito, Teseu e Ariadne a caminho de volta para Atenas, passam uma noite na ilha de Naxos, onde ele tem um sonho em que Dionisos o ameaçava se não lhe deixasse Ariadne. Temeroso, Teseu segue seu caminho, deixando-a para trás. Vendo Ariadne desesperada ao acordar sozinha, Afrodite sente piedade e lhe dá por esposo o deus Dionisos.
Noutra versão, é Dionisos quem se apaixona e rapta Ariadne de Teseu.
O deus oferece à jovem como presente de casamento uma linda coroa de ouro cravejada de pedras preciosas, que a pedido dela, é atirada ao céu após sua morte.
Conservando a forma circular, a coroa de Ariadne logo se transforma numa constelação, Corona Borealis, repleta de estrelas brilhantes.
Teseu, aproximando-se do seu destino, se esquece de trocar as velas pretas do seu navio por velas brancas. Do alto do rochedo, quando avista a embarcação , Egeu (seu pai) imaginando o filho morto, precipita-se ao mar.

(2) Fontes
- Jean Chevalier & Alain Gheerbrant, Dicionário de Símbolos, José Olympio, 18ºed.
- Paul Diel, Le symbolisme dans la mythologie grecque, Payot, Paris, 1966.
- Tassilo Orpheu Spalding, Dicionário de Mitologia Greco-Latina, Itatiaia, MG, 1965.

(3) Sobre o mito de o Minotauro ler postagens 36 e 37 deste blog.

2 comentários:

  1. Mais uma preciosa participação da colega psicoterapeuta junguiana Marilene Séllos, enviada por e-mail:
    "Ola, Julia ! A descida de Teseu no labirinto, seu mergulho seguro no inconsciente, me parece expressar o confronto necessario com a sombra, com o "recalque", para que se obtenha um novo nivel de consciencia.
    A forma circular, luminosa da coroa, unindo na pessoa do coroado, o que esta abaixo com oque esta acima me parece uma metafora da função transcendente.
    Estou amando este blog, onde tanto se aprende!"

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  2. Martha Pires, enviou por e-mail:
    "Julia, visitei seu blog e como sempre você com profundas reflexões e belos achados! Gravuras!
    Uma pergunta? onde você leu "A morte da criança imortal" texto de Nise? Não sei onde foi publicado. Abraço niseano,Martha"

    Resposta:
    O texto que coloquei no meu blog "Reflexões sobre o Trágico:A Morte da Criança Imortal", é uma compilação que fiz a partir do que Dra Nise relata no livro "Encontros Nise da Silveira", organização Luiz Carlos Mello, Beco do Azougue Editorial. Ali ela se refere ao que escreveu no sexto número da revista Quatérnio(esgotada) sob o esse título.

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