quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

12- A Farra do Boi e o Inconsciente Coletivo (2a parte de 2)


Em todos os tempos o sacrifício da instintividade representada pelo animal serviria para que o homem fosse capaz de conquistar a energia psíquica para as atividades conscientes.
Na teoria junguiana um tema como esse que é recorrente em mitos, religiões, contos de fadas e em outros produtos da criatividade humana é uma representação arquetípica.
Sua origem é o arquétipo, 'forma pré-existente e inconsciente que parece fazer parte da estrutura psíquica herdada e pode, portanto, manifestar-se sempre e por toda parte.'(*) 
A figura acima mostra Mitra, o deus indo-persa de 2000AC, no sacrifício ritual do touro sagrado. Esta representação tem elementos iconográficos fixos: Mitra surge como o barrete frígio e olha para o touro com compaixão. Inclinado sobre o touro, o deus degola-o com uma faca sacrificial. Da ferida do touro nasce trigo, o alimento essencial e primordial, que também evoca nesse contexto a morte e o renascimento.
O rito principal da religião mitraica era um banquete que tinha algumas semelhanças com a eucaristia do cristianismo. Segundo achados arqueológicos os alimentos oferecidos no banquete eram o pão e o vinho. Num determinado momento introduziu-se o rito de batismo dos fiéis com sangue de um touro, prática comum a outras religiões orientais.
Há indícios do culto à Mitra até meados do século III DC no Império Romano.
O sacrifício ritual do touro de 2000 AC até quase 2000 DC, na Farra do Boi (1), mostra que o inconsciente coletivo não é uma questão filosófica, mas sim uma constatação empírica.


(*) C.G. Jung, 'Memórias, Sonhos e Reflexões' Ed. Nova Fronteira.
(1) Sobre a  Farra do Boi,  ver postagem  de setembro

Um comentário:

  1. Hoje,no jornal O Globo, a notícia de que
    "A Farra do boi,proibida pelo Supremo Tribunal
    Federal em 1997,quase 200 anos depois de ser introduzida em Santa Catarina pelos imigrantes
    açorianos",foi contida por policiais em Forianópolis...

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