segunda-feira, 2 de junho de 2014

115- Uma História de Déja vus (4/4) - O Princípio de Hórus e o Caminho do Coração

baixo relevo egípcio
no centro, o olho de Hórus (1)
(continuação das postagens 112 a 114)
Dra. Nise relata que um caminho de imagens solares se iniciou na vida de Carlos a partir dessa intensa experiência da visão do "Planetário de Deus". Disse ela: "através de todo esse percurso na escuridão do inconsciente, como um fio condutor, está presente o princípio de Hórus,  isto é, o impulso para emergir das trevas originais até alcançar a experiência essencial da tomada de consciência. O princípio de Hórus rege todo desenvolvimento psicológico do homem e é tão forte que se mantém vivo mesmo dentro do tumulto de uma psique cindida, por mais grave que seja sua dissociação."
Na cultura egípcia o deus Hórus, filho de Ísis e Osiris representado muitas vezes por um olho, é símbolo do olhar justiceiro, discriminador, que combate Set, o maligno. O coração é a Casa do Sol, a morada do Si-mesmo. O caminho do divino é o caminho do coração, tanto na vida como na morte. O princípio de Hórus ilumina esse caminho. 
Também nas vivências do escritor francês Antoine Artaud o sol foi símbolo da consciência que ele buscou.  Em 1936, vai ao México com a meta de reviver os vestígios da antiga cultura asteca que usava alimentar os deuses elevando corações ainda pulsantes em sacrifícios ao sol. Confiavam que receberiam em troca a renovação da vida e a imortalidade.  O sol, na psicologia junguiana, é tanto símbolo do ego, o centro da consciência, quanto do Si-mesmo e representa o poder criador da psique.
Na visão da Dra. Nise, ir até lá não foi para Artaud certamente uma atitude de pura curiosidade em relação a uma população exótica, mas uma busca secreta de fortalecimento de si mesmo. Coincidência ou não, sabe-se hoje sobre a influência da exposição à luz solar sobre neurotransmissores como a serotonina diretamente relacionada aos estados de humor e bem-estar, uma base natural importante para a reconstrução da unidade psíquica. 
Em 1982, o ano seguinte a minha ida à exposição "Imagens do Inconsciente" foi um turning point. Como uma flor que se move em direção ao sol por uma espécie de instinto que busca a luz, rumei numa nova direção movida por novos interesses muito mais verdadeiros dentro de mim. No campo profissional mergulhei no universo da psicologia, me especializando mais tarde na abordagem junguiana.

Essa associação de eventos me veio à memória 24 anos depois, no instante em que recebi a flor das mãos do José Alberto, paciente do Museu de Imagens do Inconsciente. Rápido como um déjà vus... foi um raio de sol que tocou meu coração.  
E lembrando Carlos Castaneda..."um caminho é só um caminho, e não há desrespeito a si ou aos outros em abandona-lo, se é isto que o coração nos diz... examine cada caminho com muito cuidado e deliberação. Tente-o muitas vezes, tanto quanto julgar necessário. Só então pergunte a você mesmo... Este caminho tem coração? Se tem, o caminho é bom, se não tem ele não lhe serve. Um caminho é só um caminho. "

NOTA:
(1) O olho de Hórus ou "Udyat"é um simbolo proveniente do Egito Antigo, que significa poder e proteção, relacionado ao deus Hórus. É um dos amuletos mais usados no Egito. 
(2) Fonte: Silveira, Nise. Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro: Alhambra, 1981.

Um comentário:

  1. MARILENE séllos, via email;
    'Quando nos deixamos tocar por "um raio de sol",
    damos espaço para o "princípio de Hórus", que
    nos impulsiona na nossa possibilidade de re-construção.`

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