Quero compartilhar três verdadeiras epifanias.
A mais recente, foi quando assisti no Teatro Ségio Porto, a peça autobiográfica “Uma história à margem”, de Ricardo de Carvalho Duarte, o Chacal. Fiquei sabendo por que uma amiga me enviou uma foto da peça. Era o Chacal vestido com uma máscara de boi. Um minotauro urbano do século XXI! A amiga lembrou de mim, é claro. Boi-Julia, uma associação fácil de entender. Chacal conta suas histórias, na verdade incorpora as histórias - ágil, feliz, poético.
Baseada no livro autobiográfico de mesmo nome, tem a memória como fio condutor e oferece um testemunho da trajetória do autor, que inclui, além da poesia, criações ligadas à música e ao teatro experimental. É um importante registro da produção cultural do país, trazendo relatos sobre os mais emblemáticos movimentos culturais cariocas das últimas décadas, como a gênese de grupos emblemáticos como "Asdrúbal Trouxe o Trombone" e "Nuvem Cigana", recorda os áureos tempos do "Circo Voador", conta detalhes dos bastidores da "Blitz", do "movimento de performance" dos anos 90, até a criação do "CEP 20.000", o "Centro de Experimentação Poética", que já comemorou vinte anos de atividade.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1951, Chacal é músico, letrista e poeta. Artista eclético, colabora em antologias, revistas impressas e eletrônicas, em performances, como autor e editor de livros, cronista, etc. É contemporâneo da "geração mimeógrafo" e integrante do movimento de poesia marginal do país, a partir dos anos 70. O Minotauro é uma das múltiplas facetas de Chacal, apresentada em “Uma história à margem”.
A segunda ocorreu quando, igualmente levada pela informação de outro amigo que fez a associação de boi com Julia (!), fui ao teatro do CCBB, no Cena Brasil Internacional, assistir a peça "Boi". Com texto original de Miguel Jorge e direção de Hugo Rodas, tem Guido Campos atuando nos diversos papéis, diga-se de passagem, de forma visceral. A peça conta a história de Zé Argemiro, que tem como brincadeira favorita de menino de roça, montar na garupa do boi Dourado. Quando adulto, Argemiro prefere a companhia dos bois com os quais conversa com grande intimidade. Um dia se casa com Das Dores, que enciumada, ameaça matar o boi desencadeando em Argemiro uma reação inesperada.
NOTA:
(1) Veja postagem 77 "Bois que sonham e conversam", de Guimarães Rosa deste blog.
Marilene Séllos, via email:
ResponderExcluir"Interessante, Júlia, peças teatrais materializando o imaginário popular em relação ao boi.Temos então um "Minotauro" que não devora, mas traz à "margem", revelações de seu labirinto interno!"