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O TOURO E O EU SÃO ESQUECIDOS |
Sumiram todos os sentimentos ilusórios e desaparecidas estão também as idéias de santidade. Ele não se demora (no estado de “eu sou um Buda”) e passa rápido (pelo estado de “e agora me livrei do orgulhoso sentimento de ser”) para não Buda. Mesmo os mil olhos (dos quinhentos Budas e patriarcas) não podem discernir nele qualquer qualidade específica. Se centenas de pássaros jogassem flores por sua casa, ele só se sentiria envergonhado. “Chicote, corda, touro e homem pertencem igualmente ao vazio.
Tão vasto e infinito é o céu azul que não há conceitos que o alcancem.
Sobre o fogo flamejante o floco de neve se funde.
Quando este estado é realizado chega finalmente a compreensão do espírito dos antigos patriarcas.”
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VOLTANDO A ORIGEM |
Desde o começo, nunca houve nem um grão de poeira (para bloquear a pureza intrínseca). Ele observa o crescer e decrescer das coisas do mundo, enquanto permanece sem esforço, num estado de tranqüilidade inalterável. Isto (o crescer e decrescer) não é ilusório nem fantasmagórico (mas a manifestação da origem). Por que, então, é preciso lutar por algum objetivo? As águas são azuis e as montanhas verdes. A sós, consigo mesmo, ele observa o mudar sem fim das coisas.
“Ele voltou à origem, retornou à fonte primeira.
mas seus passos foram em vão.
E como se agora estivesse surdo e cego.
Sentado em sua palhoça, não procura coisas de fora;
fluem de si mesmas as águas correntes,
flores vermelhas desabrocham naturalmente vermelhas.”
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ENTRANDO NA PRAÇA DO MERCADO |
O portão de sua palhoça está fechado. Nem o mais sábio pode encontrá-lo. O seu panorama mental finalmente desapareceu. Ele vai no seu próprio caminho, não fazendo tentativa alguma de seguir os passos dos antigos mestres. Carregando uma garrafa, passeia pelo mercado; apoiado num bordão, volta para casa. Conduz os donos de botequins e peixarias ao caminho de Buda. “De peito nu e descalço, dá entrada no mercado enlameado e coberto de poeira;
como sorri amplamente
sem recorrer a poderes especiais
faz com que as árvores ressequidas floresçam novamente.”
Os dez quadros do pastoreio do touro dizem respeito ao nosso desenvolvimento interior e possui também um significado mais amplo, pois neles se manifesta a busca da própria humanidade. Podemos também associar os quadros ao mito do filho pródigo do cristianismo. O filho pródigo “tendo dado as costas a sua verdadeira natureza”, se perde tal como o pastoreio do touro e perambula pelo mundo buscando a felicidade para, enfim, voltar e encontrá-la na casa do pai.
Os quadros representam nossa própria busca interior, pois todos temos que enfrentar nossos inimigos, que são as recordações, os hábitos e as repetições. É preciso que estejamos atentos a esses círculos viciosos e cansativos cujo peso impede que encontremos a paz e o repouso.
“Todo momento, esteja consciente e vigilante para não se apegar as suas percepções do universo e dos seres dentro dele como reais e sólidos. Treine a si mesmo para encarar tudo como um jogo de aparições irreais." (Patrul Rimpoche)
NOTAS:
1) Fonte ZEN-BUDISMO, Planeta especial, 188-A.
2) Agradecimento à indicação da amiga Claudia Leal.